
Me pego pensando na carência…
Carente de me ver nos seus olhos,
De sentir seu peito arfar no meu, da pele tocar, os pelos eriçar,
Sua boca encontrar com a minha.
Meu ouvido está oco,
Minha alma está oca.
Esse vazio oco que precisa ser preenchido,
Preenchido pela plenitude das almas que se encontram no desencontro,
Preenchido pelo seu eu em você, ou será o contrário?
Será que o contrário de oco é cheio? Será que é preenchido? Ou suficiente?
Não sei, apenas sinto o que pulsa e que precisa transbordar,
Transborda em mim, para que eu possa transbordar na vida,
Na vida que mereço, que preciso, que contempla, que segue, que ama e que morre.
Carência: nascemos com um buraco, um vazio, uma condição que nos faz humanos e que, ao mesmo tempo, nos distingue e nos torna únicos.
Palavra tão representativa da atualidade, tão separatista, desafiadora, inquietante e singular!
Na sociedade de consumo, queremos, e isso é um poder atribuído e pertencente. Mas como lidar com essa falta? Como, no escuro do quarto, perceber que não somos apenas indivíduos? Somos mais, muito mais, e mesmo assim andamos pela vida nos sentindo sós…
A carência é um sinal que devemos ver com carinho, buscando um caminho para perceber o que ela representa. Os exercícios sistêmicos têm a função de mostrar essas sensações, sentimentos, e onde pode estar a base para o nosso lugar, onde nos sentimos confortáveis em sermos apenas nós: filhos e filhas, pais e mães, adultos na busca de curar suas dores.
O caminho nos leva ao nosso passado – aos nossos pais, avós, bisavós – mas também nos traz para o presente com confiança, respeito e amor ao que vivemos, às nossas escolhas, e às mudanças de vieses que não fazem mais sentido.
A jornada se torna uma aventura de reconstrução, força, boas conquistas, e, principalmente, novas possibilidades!